ÊNIO RUDI STURZEBECHER
( BRASIL – SANTA CATARINA)
Nascido em 17.11.1955, natural de Mondaí – Santa Catarina, veio para Brasília em Janeiro de 1974, fez o 2º grau no Colégio Leonardo da Vinci.
Formado em Geografia pelo CEUB, professor da do da Vinci. Formado em Geografia pelo CEUB, professor daFundação Educacional do Distrito Federal, desde 1986. Adotou a poesia, desde menino, como uma válvula de escape às
tensões e injustiças cotidianas.
MOUSINHO, Ronaldo Alves. Vida em Poesia; 36 anos Poetas Escolhidos. Brasília: Valci Gráfica e Ed., 1996. 173 p. N. 01 175
Exemplar da Biblioteca de Antonio Miranda, doação do amigo (livreiro)
Brito (em Brasília) em outubro de 2024.
DECADÊNCIA
Os pequenos artefatos da fome cotidiana,
consomem a vida comprimindo abdômens!
A ilusão do amor da prostituta
que labuta noites inteiras,
Usa perfumes, cremes e batons;
em cena o prazer ocultando olheiras...
As ruas esburacadas, o tombo do bêbado,
o ruído de um crânio esfacelado no meio-fio!
o brilho sonoro da sirene, a vergonha do filho,
o trilho escuro do sangue invadindo a lama.
Da ante-sala se filtra a luz
diluindo-se por sobre as poças refratárias da rua.
Os riscos claros que se estendem no asfalto,
faltam incendiar de indignação a dona de casa.
As casas dispostas ao acaso desdenham orgulhosas
as rosas claras que nunca crescem em seus jardins!
Os semblantes artificiais que ocorrem à praça
sustentam os olhares nas carreirinhas brancas do pó.
Sombrios e obtusos, sucessivos telhados se curvam
ao peso das chuvas tropicais de janeiro.
A imensurável ausência de talento nos honestos
esfacela a coragem ensandecida das utopias!
As multidões se aglomeram nos desencontros
que as grandes avenidas ou pequenas ruas oportunizam...
Trabalhadores, ladrões, viciados e mendigos,
certificam-se das incertezas nos abrigos
das paradas de ônibus.
Nos trajes, no comportamento,
alguns sinais de antiga opulência,
em cada milímetro do corpo,
a devastação, a decadência!
CONTRASTES!
Traço curvo entre a curva e a quadra,
o jogo de luz no espaço amplo, formando um xadrez disperso
onde os versos preenchem os vazios
quando a noite encerra os blocos.
Brasília, terra de estranhos encontros
adoça beijos com guaraná,
encanta o visitante em linhas retas,
horizontes que não cabem nas retinas!
Nações brasileiras, estrangeiras,
dormem sonhando câmara e senado,
e o povo anônimo sua, sem nada!
Levando voo bem cedo
para suplantar de frente o medo,
acabo aterrissando rente ao riso impreciso
de quem vai trabalhar.
A luta é constante, profundamente impregnados de uma
sabedoria mesquinha,
que se impõe com um talento inexorável,
aniquilando o propósito inicial desta cidade!
MONÓLOGOS DE PERIFERIA
Vida de fundo de quintal é dura,
não há espaço nem privacidade,
é a cidade amontoada na desvalia,
dias de chuva e frio na periferia!
A lama da enxurrada sob a cama!
Nos monólogos obtusos aflora o medo,
doenças nos meninos semi-nus...
Contraste artificializado entre o Plano Piloto e Ceilândia!
A dificuldade da fala na falta de energia,
o trabalho miúdo onde tudo é precário!
Ter alimento pra fome que vem
é o único argumento relevante!
Num canto da sala-copa-cozinha,
o saco de farinha junto da virgem,
a reza que nunca reveza a ladainha
decorada de muito tempo...
Em essência, esses quintais de periferia,
todos sabemos, multiplicam-se dia-a-dia,
como frutos extenuadamente disseminados
pela labuta homérica da burguesia!
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Página publicada em janeiro de 2025
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